Como seres humanos, temos inúmeros defeitos, que são característicos de nossa natureza imperfeita. Alguns destes defeitos, entretanto, quando crônicos, podem causar sérios danos a nós mesmos e aos que estão à nossa volta.
A psicologia encara estes defeitos de um ponto de vista estritamente humano e biológico, mas o cristão vê os seus defeitos a partir de um ponto de vista ainda mais profundo, em sua dimensão espiritual.
Alguns destes defeitos de caráter são tratáveis, de forma mais ou menos efetiva conforme a sua natureza, pela psicologia humana. Outros, entretanto têm raízes espirituais: são as chamadas doenças de alma, que somente podem ser curadas espiritualmente. Muitos de nossos defeitos desaparecem quando amadurecemos espiritualmente, permitindo a Deus renovar a nossa mente e restaurar a nossa natureza. Outros, entretanto, parecem desafiar o poder de Deus e persistem ao longo de toda a vida, apesar de incessantes esforços do individuo para erradica-los.
É mais comum ouvirmos falar de curas milagrosas de doenças físicas do que de curas de doenças de alma. Por que parece ser tão difícil ocorrer uma real mudança de caráter de uma pessoa? Por que é mais comum ouvirmos falar de paralíticos que se levantam e andam do que, por exemplo, de homossexuais que se tornam verdadeiramente heterossexuais? Ou de bandidos que realmente se regeneram?
A psicologia humana é bastante complexa, sobretudo quando afetada por influências espirituais. O caráter refere-se ao conjunto de disposições congênitas da personalidade que definem a índole, o temperamento, os hábitos, virtudes e vícios. Para muitos psicólogos, o caráter de um indivíduo é imutável. Para o Criador, entretanto, que nos constituiu a partir do barro, isso não apenas é possível, mas também desejável. Deus nos ensina, através de Jeremias, que para Ele a nossa natureza é como a do barro e a nossa personalidade é como um vaso. Como perfeito oleiro, Deus pode transformar um vaso quebrado em um vaso perfeito. Para isso, é necessário apenas fé e arrependimento. Mas o que é arrependimento ?
O arrependimento, em seu sentido bíblico, é essencial para uma mudança de caráter e para a cura de alma, mas é muitas vezes confundido com outros sentimentos semelhantes: remorso, vergonha e culpa.
O remorso é a dor sofrida pela constatação das consequências de um ato praticado. Tem a ver com um comportamento específico e assim geralmente é circunstancial
A vergonha é um sentimento de autodesvalorização causado pela execração ou desqualificação sofrida no meio social. Fere a necessidade de aceitação e afirmação no grupo social.
A culpa é o sentimento de responsabilidade por um prejuízo real ou suposto, causado por determinado ato ou comportamento.
O verdadeiro arrependimento, por sua vez, consiste de:
a) Convicção de uma atitude que produz o erro;
b) Disposição efetiva para corrigir o erro e mudar a atitude que o produziu.
Remorso, vergonha e culpa, embora muitas vezes inevitáveis, são sentimentos negativos e como tal podem fazer muito mal ao individuo que se deixa enredar indefinidamente neles. Por si mesmos, raramente levam a uma mudança real de atitude.
Apenas a convicção pessoal, isto é, a constatação racional da necessidade de mudar, nascida do íntimo do próprio indivíduo e não da imposição ou da repreensão por parte de terceiros, pode ensejar uma verdadeira mudança. Essa convicção muitas vezes nos é dada pela ação do Espírito Santo, que é quem nos convence do pecado. Além da convicção, é necessária também a disposição real de mudar e este é o passo mais difícil.
Padecemos de doenças de alma ontológicas como o egoísmo, o materialismo e o hedonismo e a verdade é que nos sentimos bem assim. A civilização nos ensinou a considerar estas doenças, causadas pela corrupção do pecado, como características naturais da alma humana. Por isso a vontade da carne é mais forte que a vontade do espírito, como afirmou Jesus: “o espírito, na verdade está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:41)
Muitas pessoas se convencem de que precisam mudar sua conduta - por exemplo, abandonar um vício, um comportamento nocivo em relação ao outro - mas são incapazes de mudar sua atitude de modo efetivo. Ensaiam a mudança, mas logo voltam ao antigo comportamento. Neste caso não há arrependimento real, mas apenas a intenção de mudar .
Ouvi certa vez de um líder espiritual cristão uma afirmação que se mostrou para mim algum tempo depois profundamente verdadeira: "Somente quando Deus vê sinceridade no coração do homem, Ele faz o milagre."
A vontade humana é uma força poderosa, é o apanágio da condição de liberdade na qual fomos criados. É através da vontade que dirigimos as nossas vidas e fazemos escolhas, pelas quais entretanto somos plenamente responsáveis. Deus respeita as nossas escolhas e não nos obriga a mudar nossos valores, nossas atitudes. O homem foi, é e sempre será livre para escolher seu próprio caminho.
Deus entretanto, como bom Pai, mostra a todos os homens as consequências de suas escolhas fundamentais. Ele tem feito isso desde os tempos bíblicos, quando Moisés proclamou ao povo as palavras recebidas do Senhor: "O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência." (Deuteronômio 30:19)
É através da sua força de vontade que muitos homens ergueram impérios, outros destruíram nações, outros ainda salvaram inúmeras vidas. Muitas pessoas conseguiram vencer enfermidades terríveis, através de uma ferrenha determinação íntima de viver. Entretanto, sabemos que muitas curas, não apenas de enfermidades físicas, mas também de enfermidades de alma, estão além da capacidade humana. Nestes momentos, necessitamos do poder sobrenatural de Deus. Mas Deus precisa ver em nossos corações o desejo sincero de sermos curados.
Jesus muitas vezes perguntava às pessoas enfermas que se acercavam dele: "Queres ser curado?" ou "Que queres que eu te faça?" Tudo é possível para Deus, mas sem um desejo sincero de cura e de mudança no coração do homem, Ele nada pode fazer .
Muitos clamam a Deus em oração suplicando por cura de alma, mas em seu íntimo, não querem realmente mudar ou obedecer à vontade de Deus. São pessoas movidas, em suas orações, por sentimentos negativos de remorso, culpa ou vergonha, mas não de sincero arrependimento. O mais lamentável disso tudo é que estas pessoas quase sempre enganam a si mesmas, julgando que não foram abençoadas porque Deus ainda não quis mover a sua mão sobre as suas vidas. É verdade que Deus tem o seu tempo de agir, mas neste caso Ele está impossibilitado de agir, porque não queremos realmente receber aquilo que pedimos.
Muitas vezes há uma discrepância brutal entre aquilo que pedimos e o que realmente desejamos. Um homem pode, por exemplo, pedir que Deus lhe apresente uma esposa, a quem esteja unido por amor mútuo e pela dedicação no serviço ao próximo. É uma petição bastante nobre, mas no fundo do seu coração ele não está preparado para amar nem para servir e deseja apenas a satisfação carnal.
Uma mulher pode, como outro exemplo, pedir que Deus a livre da timidez e da introversão, mas no fundo ela gosta de viver longe do convívio social, mergulhada em seu próprio mundo.
Um jovem pode ainda, pedir a Deus que o livre da escravidão das drogas, mas em seu íntimo ele ama mais o prazer que aquelas drogas lhe proporcionam do que rejeita as consequências nefastas da sua corrupção. Se ele não mudar sua atitude em relação à vida, mesmo sendo curado ele retornará ao vicio .
Esta discrepância entre aquilo que sabemos que é necessário e aquilo que realmente desejamos, entretanto, revela na verdade a intensa luta que existe no íntimo de cada cristão, entre a vontade da carne e a vontade do espírito. O apóstolo Paulo fala dessa luta em várias de suas cartas e de forma mais direta em Romanos 7 e em Gálatas 5:17.
O próprio Jesus não foi isento desta luta interior, e a revela quando; momentos antes da sua crucificação; se prostrou em oração diante do Pai, no Monte das Oliveiras. Nessa hora, segundo a vontade de sua carne, Jesus pediu: "afasta de mim esse cálice". Mas a vontade do seu espírito prevaleceu e Ele disse: "todavia não seja o que eu quero, mas o que tu queres" (Marcos 14;36)
Mas o que acontece conosco, que somos apenas humanos? Uma das características que diferencia um cristão de um não cristão é a sua atitude perante a vontade da carne, essa inclinação íntima de toda criatura de se conformar com a sua própria natureza e com a cultura da sociedade em que vive.
Enquanto o não cristão acredita que deve viver plenamente segundo a carne, buscando apenas o equilíbrio ao satisfazer a sua vontade, o cristão sabe que a sua natureza deve ser inteiramente regenerada, isto é, que ele precisa nascer de novo para que possa herdar a verdadeira vida. Essa é a vontade de seu espírito, que é também a vontade de Deus para todos os homens, mas essa vontade quase sempre é muito débil e isso produz em seu íntimo essa luta incessante.
Deus anseia por tomar em suas mãos o vaso quebrado de nossas almas, corrompido pelo pecado e marcado pela dor e transforma-lo em um vaso inteiramente novo, restaurado e purificado pelo seu amor. Mas muitos de nós relutamos em entregar-nos por inteiro em suas mãos e submetemos à sua vontade apenas parte de nossas vidas. Vemos, na submissão à vontade de Deus não a nossa plena realização, que ela efetivamente significa, mas uma ameaça à nossa própria liberdade, e por isso resistimos a ela. Enquanto a minha vontade e a vontade do Pai em mim não forem uma só vontade, essa luta persistirá em meu íntimo, indefinidamente .
Submeter-se a Deus não é algo fácil. Requer renúncia, entrega e confiança na vontade dele, à qual devemos obedecer muitas vezes sem compreender os seus motivos ou sem conhecer inteiramente os seus propósitos. Para nós, como para Jesus, esse é o caminho da cruz, o sentido último da fé, um caminho doloroso porque implica na morte do eu carnal, mas um caminho de redenção e de vida, porque implica também em ressurreição gloriosa. Poucos, na verdade, se dispõem a trilhar esse caminho e, contrariamente ao que fez Jesus, dizem tacitamente a Deus, diariamente: “Pai, passa de mim por ora esse cálice”. Entretanto, a saída não está com certeza na procrastinação e nem na conformidade.
Adiar a decisão de tomar a sua cruz e levar sobre si o jugo suave de Cristo é enganar a si mesmo. Conformar-se com essa situação, na esperança da misericórdia de Deus é fugir da luta, é se tornar espiritualmente morno, nem quente nem frio. Deus se compadece dos fracos, mas não dos covardes. Existe apenas um meio de eu ser curado e transformado, de vaso de barro defeituoso e disforme que sou em vaso de virtude, um vaso perfeito para a glória de Deus: a minha total e irrevogável rendição nas suas mãos, nas divinas mãos do bom oleiro.
Vencer a vontade da carne requer consagração e oração. Jesus, que vivia uma vida santificada, precisou consagrar a sua vida à obra do Pai e orar para vencer a vontade da carne. Quanto mais nós, ainda sujeitos ao pecado, precisamos aprender a obedecer, a vigiar e a orar, como Ele recomendou a seus discípulos no Monte das Oliveiras
Existem duas formas de obediência: ou pela fé ou pelo amor. Paulo nos diz, no final do capítulo 13 de sua primeira carta aos Coríntios que, de todos os dons espirituais, permanecerão apenas “a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.” Assim, eu sei que é preciso obedecer pela fé e pela esperança, mas melhor ainda é obedecer por amor àquele que tanto me tem amado.
A psicologia encara estes defeitos de um ponto de vista estritamente humano e biológico, mas o cristão vê os seus defeitos a partir de um ponto de vista ainda mais profundo, em sua dimensão espiritual.
Alguns destes defeitos de caráter são tratáveis, de forma mais ou menos efetiva conforme a sua natureza, pela psicologia humana. Outros, entretanto têm raízes espirituais: são as chamadas doenças de alma, que somente podem ser curadas espiritualmente. Muitos de nossos defeitos desaparecem quando amadurecemos espiritualmente, permitindo a Deus renovar a nossa mente e restaurar a nossa natureza. Outros, entretanto, parecem desafiar o poder de Deus e persistem ao longo de toda a vida, apesar de incessantes esforços do individuo para erradica-los.
É mais comum ouvirmos falar de curas milagrosas de doenças físicas do que de curas de doenças de alma. Por que parece ser tão difícil ocorrer uma real mudança de caráter de uma pessoa? Por que é mais comum ouvirmos falar de paralíticos que se levantam e andam do que, por exemplo, de homossexuais que se tornam verdadeiramente heterossexuais? Ou de bandidos que realmente se regeneram?
A psicologia humana é bastante complexa, sobretudo quando afetada por influências espirituais. O caráter refere-se ao conjunto de disposições congênitas da personalidade que definem a índole, o temperamento, os hábitos, virtudes e vícios. Para muitos psicólogos, o caráter de um indivíduo é imutável. Para o Criador, entretanto, que nos constituiu a partir do barro, isso não apenas é possível, mas também desejável. Deus nos ensina, através de Jeremias, que para Ele a nossa natureza é como a do barro e a nossa personalidade é como um vaso. Como perfeito oleiro, Deus pode transformar um vaso quebrado em um vaso perfeito. Para isso, é necessário apenas fé e arrependimento. Mas o que é arrependimento ?
O arrependimento, em seu sentido bíblico, é essencial para uma mudança de caráter e para a cura de alma, mas é muitas vezes confundido com outros sentimentos semelhantes: remorso, vergonha e culpa.
O remorso é a dor sofrida pela constatação das consequências de um ato praticado. Tem a ver com um comportamento específico e assim geralmente é circunstancial
A vergonha é um sentimento de autodesvalorização causado pela execração ou desqualificação sofrida no meio social. Fere a necessidade de aceitação e afirmação no grupo social.
A culpa é o sentimento de responsabilidade por um prejuízo real ou suposto, causado por determinado ato ou comportamento.
O verdadeiro arrependimento, por sua vez, consiste de:
a) Convicção de uma atitude que produz o erro;
b) Disposição efetiva para corrigir o erro e mudar a atitude que o produziu.
Remorso, vergonha e culpa, embora muitas vezes inevitáveis, são sentimentos negativos e como tal podem fazer muito mal ao individuo que se deixa enredar indefinidamente neles. Por si mesmos, raramente levam a uma mudança real de atitude.
Apenas a convicção pessoal, isto é, a constatação racional da necessidade de mudar, nascida do íntimo do próprio indivíduo e não da imposição ou da repreensão por parte de terceiros, pode ensejar uma verdadeira mudança. Essa convicção muitas vezes nos é dada pela ação do Espírito Santo, que é quem nos convence do pecado. Além da convicção, é necessária também a disposição real de mudar e este é o passo mais difícil.
Padecemos de doenças de alma ontológicas como o egoísmo, o materialismo e o hedonismo e a verdade é que nos sentimos bem assim. A civilização nos ensinou a considerar estas doenças, causadas pela corrupção do pecado, como características naturais da alma humana. Por isso a vontade da carne é mais forte que a vontade do espírito, como afirmou Jesus: “o espírito, na verdade está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:41)
Muitas pessoas se convencem de que precisam mudar sua conduta - por exemplo, abandonar um vício, um comportamento nocivo em relação ao outro - mas são incapazes de mudar sua atitude de modo efetivo. Ensaiam a mudança, mas logo voltam ao antigo comportamento. Neste caso não há arrependimento real, mas apenas a intenção de mudar .
Ouvi certa vez de um líder espiritual cristão uma afirmação que se mostrou para mim algum tempo depois profundamente verdadeira: "Somente quando Deus vê sinceridade no coração do homem, Ele faz o milagre."
A vontade humana é uma força poderosa, é o apanágio da condição de liberdade na qual fomos criados. É através da vontade que dirigimos as nossas vidas e fazemos escolhas, pelas quais entretanto somos plenamente responsáveis. Deus respeita as nossas escolhas e não nos obriga a mudar nossos valores, nossas atitudes. O homem foi, é e sempre será livre para escolher seu próprio caminho.
Deus entretanto, como bom Pai, mostra a todos os homens as consequências de suas escolhas fundamentais. Ele tem feito isso desde os tempos bíblicos, quando Moisés proclamou ao povo as palavras recebidas do Senhor: "O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência." (Deuteronômio 30:19)
É através da sua força de vontade que muitos homens ergueram impérios, outros destruíram nações, outros ainda salvaram inúmeras vidas. Muitas pessoas conseguiram vencer enfermidades terríveis, através de uma ferrenha determinação íntima de viver. Entretanto, sabemos que muitas curas, não apenas de enfermidades físicas, mas também de enfermidades de alma, estão além da capacidade humana. Nestes momentos, necessitamos do poder sobrenatural de Deus. Mas Deus precisa ver em nossos corações o desejo sincero de sermos curados.
Jesus muitas vezes perguntava às pessoas enfermas que se acercavam dele: "Queres ser curado?" ou "Que queres que eu te faça?" Tudo é possível para Deus, mas sem um desejo sincero de cura e de mudança no coração do homem, Ele nada pode fazer .
Muitos clamam a Deus em oração suplicando por cura de alma, mas em seu íntimo, não querem realmente mudar ou obedecer à vontade de Deus. São pessoas movidas, em suas orações, por sentimentos negativos de remorso, culpa ou vergonha, mas não de sincero arrependimento. O mais lamentável disso tudo é que estas pessoas quase sempre enganam a si mesmas, julgando que não foram abençoadas porque Deus ainda não quis mover a sua mão sobre as suas vidas. É verdade que Deus tem o seu tempo de agir, mas neste caso Ele está impossibilitado de agir, porque não queremos realmente receber aquilo que pedimos.
Muitas vezes há uma discrepância brutal entre aquilo que pedimos e o que realmente desejamos. Um homem pode, por exemplo, pedir que Deus lhe apresente uma esposa, a quem esteja unido por amor mútuo e pela dedicação no serviço ao próximo. É uma petição bastante nobre, mas no fundo do seu coração ele não está preparado para amar nem para servir e deseja apenas a satisfação carnal.
Uma mulher pode, como outro exemplo, pedir que Deus a livre da timidez e da introversão, mas no fundo ela gosta de viver longe do convívio social, mergulhada em seu próprio mundo.
Um jovem pode ainda, pedir a Deus que o livre da escravidão das drogas, mas em seu íntimo ele ama mais o prazer que aquelas drogas lhe proporcionam do que rejeita as consequências nefastas da sua corrupção. Se ele não mudar sua atitude em relação à vida, mesmo sendo curado ele retornará ao vicio .
Esta discrepância entre aquilo que sabemos que é necessário e aquilo que realmente desejamos, entretanto, revela na verdade a intensa luta que existe no íntimo de cada cristão, entre a vontade da carne e a vontade do espírito. O apóstolo Paulo fala dessa luta em várias de suas cartas e de forma mais direta em Romanos 7 e em Gálatas 5:17.
O próprio Jesus não foi isento desta luta interior, e a revela quando; momentos antes da sua crucificação; se prostrou em oração diante do Pai, no Monte das Oliveiras. Nessa hora, segundo a vontade de sua carne, Jesus pediu: "afasta de mim esse cálice". Mas a vontade do seu espírito prevaleceu e Ele disse: "todavia não seja o que eu quero, mas o que tu queres" (Marcos 14;36)
Mas o que acontece conosco, que somos apenas humanos? Uma das características que diferencia um cristão de um não cristão é a sua atitude perante a vontade da carne, essa inclinação íntima de toda criatura de se conformar com a sua própria natureza e com a cultura da sociedade em que vive.
Enquanto o não cristão acredita que deve viver plenamente segundo a carne, buscando apenas o equilíbrio ao satisfazer a sua vontade, o cristão sabe que a sua natureza deve ser inteiramente regenerada, isto é, que ele precisa nascer de novo para que possa herdar a verdadeira vida. Essa é a vontade de seu espírito, que é também a vontade de Deus para todos os homens, mas essa vontade quase sempre é muito débil e isso produz em seu íntimo essa luta incessante.
Deus anseia por tomar em suas mãos o vaso quebrado de nossas almas, corrompido pelo pecado e marcado pela dor e transforma-lo em um vaso inteiramente novo, restaurado e purificado pelo seu amor. Mas muitos de nós relutamos em entregar-nos por inteiro em suas mãos e submetemos à sua vontade apenas parte de nossas vidas. Vemos, na submissão à vontade de Deus não a nossa plena realização, que ela efetivamente significa, mas uma ameaça à nossa própria liberdade, e por isso resistimos a ela. Enquanto a minha vontade e a vontade do Pai em mim não forem uma só vontade, essa luta persistirá em meu íntimo, indefinidamente .
Submeter-se a Deus não é algo fácil. Requer renúncia, entrega e confiança na vontade dele, à qual devemos obedecer muitas vezes sem compreender os seus motivos ou sem conhecer inteiramente os seus propósitos. Para nós, como para Jesus, esse é o caminho da cruz, o sentido último da fé, um caminho doloroso porque implica na morte do eu carnal, mas um caminho de redenção e de vida, porque implica também em ressurreição gloriosa. Poucos, na verdade, se dispõem a trilhar esse caminho e, contrariamente ao que fez Jesus, dizem tacitamente a Deus, diariamente: “Pai, passa de mim por ora esse cálice”. Entretanto, a saída não está com certeza na procrastinação e nem na conformidade.
Adiar a decisão de tomar a sua cruz e levar sobre si o jugo suave de Cristo é enganar a si mesmo. Conformar-se com essa situação, na esperança da misericórdia de Deus é fugir da luta, é se tornar espiritualmente morno, nem quente nem frio. Deus se compadece dos fracos, mas não dos covardes. Existe apenas um meio de eu ser curado e transformado, de vaso de barro defeituoso e disforme que sou em vaso de virtude, um vaso perfeito para a glória de Deus: a minha total e irrevogável rendição nas suas mãos, nas divinas mãos do bom oleiro.
Vencer a vontade da carne requer consagração e oração. Jesus, que vivia uma vida santificada, precisou consagrar a sua vida à obra do Pai e orar para vencer a vontade da carne. Quanto mais nós, ainda sujeitos ao pecado, precisamos aprender a obedecer, a vigiar e a orar, como Ele recomendou a seus discípulos no Monte das Oliveiras
Existem duas formas de obediência: ou pela fé ou pelo amor. Paulo nos diz, no final do capítulo 13 de sua primeira carta aos Coríntios que, de todos os dons espirituais, permanecerão apenas “a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.” Assim, eu sei que é preciso obedecer pela fé e pela esperança, mas melhor ainda é obedecer por amor àquele que tanto me tem amado.
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